terça-feira, 11 de maio de 2010

O cão do idoso

Minhas lindas - meus lindos - sei que este texto é longo... mas, por favor... leiam.
Verão que valeu a pena.
Tenham todos uma linda tarde, com o afago da Toca dos Gatos ^.^

Tato, o quinto sentido = por Kátia Regina Aiello

De todos os sentidos humanos, o tato é o que mais acaba passando despercebido no nosso dia-a-dia.
É comum, volta e meia, pensarmos: Graças a Deus não sou cego ou Coitada daquela menina surda, como deve ser difícil a vida dela!
Também nos relacionamos mais constantemente, com prazer e naturalidade, com o sentido do olfato. Gostamos de ter perto de nós perfumes que nos agradam, fazemos questão de senti-lo em nós e nas pessoas que amamos, nos lembramos de trazer para casa, sempre que possível, o cheirinho das flores de que mais gostamos para embriagar o sentido do nosso olfato e também, nesse caso, o da visão.
A todo instante estamos atentendo nosso paladar, do café-da-manhã ao último lanchinho na noite, procurando ingerir alimentos que apreciamos, preparando receitas que satisfaçam os desejos do nosso paladar.
E o tato, coitado, fica lá, escondidinho na falta de consciência que temos dele, pois normalmente estamos a todo instante, de um jeito ou de outro, sendo tocados sem nem percebermos.
Não precisamos pedir aos amigos, marido, esposa e filhos que nos abracem, o gesto acaba sendo natural, um aperto de mão aqui, um abraço ali, afago de mão na cabeça um dia, um beijo, dois... e assim vamos sendo tocados.
Quando nos deixamos queimar por uma panela, por exemplo, ou depilamos a perna com cera quente (no caso das mulheres), então sentimos, literalmente na pele, o tato de uma maneira nada agradável. Mas se tudo transcorrer de forma normal em nossa vida e não tivermos propensão a acidentes, o tato pode ser considerado o irmão menos ilustre dos cinco sentidos, tão pouco notado ele é. Até que um dia percebemos que quase não somos mais tocados. Que os beijinhos vão diminuindo e ficando menos amorosos (e mais rápidos), e reservados só para as horas mais convencionais. Até que um dia percebemos que nossos parceiros, que nos tocavam mais, já partiram, que nossos netos já não precisam do nosso colo nem do nosso cafuné, que a nossa pele pode não ser mais tão convidativa ao toque.
Será que é nessa hora que envelhecemos aos olhos dos outros?
Quando o toque fica cada vez mais distante de nós?
Estou na terceira idade, já não ouço como antes. Minha visão anda fraca. Não sinto mais tanto o gosto das comidas que antes eu adorava. Agora o cheiro de limpeza à minha volta é mais forte que o aroma de um café com bolinhos de chuva ou da água-de-cheiro que eu costumava passar após o banho.
E quando todos os sentidos parecem estar indo embora da minha vida, descubro como era gostoso tocar e ser tocado. Agora somos tocados por auxiliares de enfermagem, sempre com pressa e preocupados com a nossa higiene. Os familiares, quando aparecem aos domingos, nos abraçam com tanta rapidez que não dá tempo nem de sentir o calor dos seus corpos. É um abraço na chegada e outro na saída. Dois rápidos contatos físicos.
Como é forte o desejo de sentir o outro de verdade o outro pelo toque, mas como é difícil viver isso quando envelhecemos.
Acho que foi por isso que Deus criou os animais. Onde eu moro agora, num asilo, existem alguns cães que vêm me visitar e que não se importam em ser tocados. Ao contrário. Eles vêm para perto de mim, se aconchegam no meu colo e pedem carinho. Acaricio seus pêlos delicadamente e com isso, devagarinho, vou sentindo um calor no meu coração. É uma hora em que parece que existo de verdade e que estou sendo importante para alguém. Esses peludinhos ficam realmente felizes em serem tocados pelas minhas mãos enrugadas e frias. Eu sinto que eles gostam, então o meu coração vai se aquecendo mais e mais, e o calor passa por todo o meu corpo e acho que para os cães também. Às vezes algum cachorrinho mais alegrinho me dá uma lambida na mão. Sua língua tão quentinha está retribuindo o meu carinho. Acho que essas lambidas são os beijos mais sinceros que eu recebo de alguém nesta altura da minha vida. Tento aproveitar ao máximo esse momento de contato, antes que alguém venha rapidamente limpar a minha mão com lenços umedecidos (frios e perfumados demais para o meu gosto).
Se eu mesmo agora dei para babar, não sei por que limpam a baba do cachorro...
A velhice tem dessas coisas, fazer o quê... Mas quem liga para isso? Somente as pessoas que (ainda) não babam. O cãozinho que está no meu colo nem se importa com a minha baba. O que ele quer são os MEUS afagos. E eu quero os dele também.
Os cachorros grandes que vêm me visitar deitam no chão com a barriga para cima e eu fico passando os meus pés na barriga deles. Eu sinto, uns têm pêlo longo e macio como cabelo de mulher rica, outros tem a barriga lisinha, pelada. Sabia que eu sei identificar cachorra que já teve cria? Com os meus pés eu vou acariciando a barriga dela até chegar nas tetas. Tetas grandes é sinal de que a danada foi uma boa parideira; tetas pequenas são de cachorras que nunca cruzaram. Tem cachorro que, quando eu passo a mão, dá para sentir as costelas. Eu penso em falar para a dona: vai no açougue e compra um pouco de bofe, mistura com arroz e fubá, e dá pra ele. Eles ficam fortes como um touro. Mas não adianta falar, hoje em dia é tudo na base de comida pronta também para cachorro, ração. Para ser bem sincera, eu sei que as pessoas que vêm me visitar gostam de mim, são boa gente, mas também percebo que elas fazem um certo esforço para parecerem naturais comigo. Já os cães que vêm me visitar são espontâneos como todo cão. Hoje veio me ver a Augusta. O rabinho dela fica balançando de alegria quando me vê. Ela é daquele tipo de cão salsicha, pretinha e toda peludinha. Um pêlo meio duro, parece pêlo de vira-lata. Quando toco nela, lembro dos banhos que eu dava na Pituca. A Pituca era assim, não sei como ela sabia quando eu estava para chegar em casa, acho que sentia por dentro, e já ia para o portão me esperar. Eu coço a orelha da Augusta e ela vira a cabecinha, adorando. Aprendi com a Pituca que todo o cachorro gosta que cocem a orelha dele. A Pituca só não gostava era de banho. Ela tinha uma toalha só dela e quando eu pegava a toalha e o sabão de coco, ela fugia para dentro do caixote dela. Será que a Augusta tem medo de banho? Hoje ela me deu três lambidas (beijos!), mas realmente não sei por que precisam logo limpar a minha mão quando ela me lambe... A lingüinha dela é tão pequena, tão limpinha... Será que quando eu era jovem eu também me preocupava com coisas tão sem importância como essa? Despeço-me da Augusta com um abraço cheio de amor e, enquanto vejo ela partir para o colo de outra pessoa aqui do asilo, percebo como minha mão está quente e relaxada. Fico pensando até quando vai durar essa sensação gostosa que estou sentindo por dentro e por fora. Fechei os olhos, adormeci e sonhei que a Pituca estava querendo dormir comigo na cama. Ela estava pedindo com o olhar e eu, que nunca deixei, peguei-a no colo e a aconcheguei em meus braços até dormirmos as duas juntas. Quando acordei, senti muitas saudades da minha Pituca. Ela me acompanhou durante quinze anos da minha vida. Mas não estou triste, não, pois sei que nos próximos dias vou ver a Augusta, o Goofy, a Cherrie, o Horácio, o Din, a Jaya, o Joca, a Laka, o Paraná, o Duby, a Sarita, a Seiko...


12 comentários:

Anônimo disse...

Que bonito Ana! Os animais são grandes companhias em todas as fases da nossa vida não é mesmo? Beijos e lambeijos nos seus peludos.

Unknown disse...

Que lindo Ana só de ler faz bem. Os animais e a sua bondade inocente e infantil devolvem-nos a esperança no futuro enquanto eles não nos abandonarem há esperança ainda. Beijo grande

Blog da Pink disse...

O texto é emocionante. Sempre pensei em levar a Luna para visitar asilos, mas ela é grandona e muito carente, acho que ia fazer estragos. Agora vou pensar melhor no assunto...
Beijos
Laís

Gisa disse...

Lindo de verdade Ana! O texto espelha muito do que nós que os amamos já sabemos: que para os animais não importa se somos gordos ou magros, bonitos ou feios, velhos ou moços. Eles enxergam mais longe, vêem o coração e a alma e só querem receber e dar calor e carinho. Que teu dia seja iluminado junto a teus peludos lindos. Beijos mil

Tuka Miranda disse...

Oi Ana querida!
Saudades de vc,viu?!!?
Que mensagem linda e verdadeira...em todos os sentidos.
Um grande beijo,

Anônimo disse...

Adorei Ana, esta mensagem demonstra bem como os nossos idosos são tratados no fim da vida, depois de anos de dedicação. É triste mas é a realidade dos nossos dias, as pessoas estão cada vez mais egoistas.Os animais são realmente os nossos melhores amigos. Beijinhos meus e lambidelas dos meus sete peludinhos.

Anônimo disse...

LIIIIIINDO.

Tenho uma lágrima no canto do olho :D

Turrinhas

Marília disse...

Muido lindo este texto Ana! Isso nós faz ter certeza de uma coisa, que os animais são mais amigos de nós humanos do que os próprios humanos deles mesmos! Por isso amo meus fofinhos!
Beijos Ana e lambeijinhos nos seus bebês!

P.S.:na semana que vem te envio seu mimo!

Verena disse...

Ana,
Muito lindo!!
Dê uma olhadinha no mosaico do nosso Blog... Olha quem está lá!!
Lambs e Ronrons

Verena disse...

Olá Ana,
Texto lindo e verdadeiro...
Beijinhos,Lambs e Ronrons

Luna disse...

Oi Ana que linda mensagem, e a quem diga que nós é que somos os animais!!!
audoro sua visitinha
lambeijos linda

^.^ Ana Clara ^.^ disse...

Minhas lindas e lindos, muito grata por seus comentários, sempre sinceros e carinhosos.
Estou atrasada na moderação, mas cheguei!
Não reparem, pois fico pouco na net, coloco algumas coisas escolhidas a dedo para todos e saio, pois a "cobrança" da galera é grande.
Fico muito feliz ao saber que se encontram, que gostam do que é colocado aqui.
Saibam que tudo aqui é feito com carinho, cada texto ou imagem é sempre escolhido para tocar vocês em seu lado bom, não quero aqui machucar ninguém.
Beijos, obrigada por vocês nos visitarem, façam isto sempre, Toca dos Gatos.