segunda-feira, 26 de outubro de 2009
O cachorro e o gatinho
Eram dois vizinhos...
O primeiro vizinho comprou um gatinho para os filhos.
Os filhos do outro vizinho pediram um bicho para o pai.
O doido comprou um pastor alemão. Papo de vizinho:
- Mas ele vai comer o meu gatinho.
- De jeito nenhum. Imagina. O meu pastor é filhote.
Vão crescer juntos, pegar amizade. Entendo de bicho.
Problema nenhum.
E parece que o dono do cachorro tinha razão.
Juntos cresceram e amigos ficaram.
Era normal ver o gato no quintal do cachorro e vice-versa.
As crianças, felizes.
Eis que o dono do gato foi passar o final de semana na praia com a família.
Isso na sexta-feira.
No domingo, de tardinha, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche,
quando entra o pastor alemão na cozinha. Pasmo. Trazia o gato entre os dentes,
todo imundo, arrebentado, sujo de terra e, é claro, morto.
Quase mataram o cachorro.
- O vizinho estava certo. E agora, meu Deus?
- E agora?
A primeira providência foi bater no cachorro, escorraçar o animal,
para ver se ele aprendia um mínimo de civilidade e boa vizinhança.
Claro, só podia dar nisso.
Mais algumas horas e os vizinhos iriam chegar.
E agora? Todos se olhavam.
O cachorro rosnando lá fora, lambendo as tantas pancadas que ainda lhe doíam.
- Já pensaram como vão ficar as crianças? (perguntou a mulher)
- Cala a boca!!!!
Não se sabe exatamente de quem foi a idéia, mas era infalível.
- Vamos dar um banho no gato, deixar ele bem límpido,
depois a gente seca com o secador da sua mãe e coloca na casinha dele no quintal.
Como o gato não estava muito estraçalhado, assim fizeram.
Até perfume colocaram no falecido. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças.
E lá foi colocado, com as perninhas cruzadas, como convém a um gato cardíaco.
Umas três horas depois eles ouvem a vizinhança chegar.
Notam o alarido e os gritos das crianças. Descobriram!
Não deram cinco minutos e o dono do gato veio bater a porta.
Branco, lívido, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma.
O que foi? Que cara é essa?
O gato... O gato...
O que tem o gato?
- Morreu!
Todos:
- Morreu? Ainda hoje de tarde parecia tão bem...
- Morreu na sexta-feira!
Na sexta?
- Foi. Antes de a gente viajar as crianças enterraram ele no fundo do quintal!
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A historia termina aqui. O que aconteceu depois não interessa.
Nem ninguém sabe.
Mas o personagem que mais me cativa nesta historia toda,
o protagonista da historia, é o cachorro.
Imagine o pobre do cachorro que, desde sexta-feira,
procurava em vão pelo amigo de infância, o gatinho.
Depois de muito farejar descobre o corpo. Morto. Enterrado.
O que faz ele? Provavelmente com o coração partido,
desenterra o pobrezinho e vai mostrar para os seus donos.
Provavelmente estivesse até chorando, quando começou a levar
pancada de tudo quanto e lado.
O cachorro é o herói.
O bandido é o dono do cachorro. O ser humano.
Sim, nós mesmos, que não pensamos duas vezes.
Para nós o cachorro é o irracional, o assassino confesso.
E o homem continua achando que um banho, um secador
de cabelos e um perfume disfarçam a hipocrisia, o animal desconfiado
que tem dentro de nós.
Julgamos os outros pela aparência, mesmo que tenhamos que
deixar esta aparência como melhor nos convier. Maquiada.
Coitado do cachorro.
Coitado do dono do cachorro.
Coitados de nós, animais racionais.
(*Desconheço o autor)
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3 comentários:
Eu sei que é só uma história, mas deu vontade de chorar com dó do cachorro... aff...
Tem selinho e brincadeira pra vc no meu outro blog: gattitos.
Passa lá!
bjs.
Que história triste , coitado do cão. :( lagrimas sairam dos meus olhos.
Maravilhoso seu blog...Tão gratificante ver que existem pessoas que se preocupam d verdade com os animais e que fazem alguma coisa pra mudar o que tá errado.Seu trabalho é sensível, sincero e inteligente...Simplesmente amei...Espero que vc continue sua missão por muito tempo de verdade!!!!
E VIVA OS ANIMAIS!!!
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